Fotografia

Arte e identidade no Caribe

Enquanto Kisha Scarville investiga a migração de seu pai através de colagem, Kosisochukwu Nnebe usa a impressão de clorofila em folhas de bananeira para destacar a impermanência da imagem. Suas obras, criadas no El Espacio 23, recontextualizam as raízes coloniais ao explorar identidades estadunidenses e caribenhas sob a influência de Miami.

Há também a dualidade da imagem real impressa na folha de bananeira pela ação do sol, que ativa o processo. Uma vez exposta à luz, testemunha-se como a imagem é transferida para os dois lados da mesma folha. “Se você fotografa apenas um lado, perde o fato de que há outra imagem sendo processada, o que brinca com essa ideia de positivo e negativo”, explica Nnebe. “Há algo no fato de não ser possível ver as duas imagens ao mesmo tempo. Você tem que se movimentar para ver as duas imagens, o que joga com a maneira como os artistas de instalação veem o espaço em relação ao seu trabalho.”

Para Scarville e Nnebe, Miami está fisicamente mais próxima do Caribe do que suas bases no Brooklyn e em Montreal, o que ajuda no envolvimento direto com as questões com as quais elas constantemente se deparam enquanto artistas. O que significa se sentir mais estadunidense do que guianense? Como recontextualizamos raízes coloniais profundas como o contrário, como ferramentas de reivindicação para empoderar o olhar negro? Enquanto as composições digitais em preto e branco de Scarville e a série Passports falam de laços familiares profundamente pessoais e do significado de ser filha da primeira geração em um lar, as apresentações conceituais de Nnebe, feitas a partir de lentes, são as que criam raízes na escultura como um suporte para girar o contexto. Elas conjecturam um mundo onde quem antes era a vítima agora é dirigente. Há, no entanto, uma ligação entre Scarville e Nnebe na reivindicação de histórias contadas que merecem ser questionadas e exploradas – não para serem levadas ao pé da letra, mas para serem reinterpretadas e verdadeiramente compreendidas.

A força da luz do sol de Miami é inegável, e a proximidade com as complexidades do Caribe nos bairros da cidade reverbera um chamado de volta ao trabalho que não precisa ser criado dentro das paredes dessa residência para encontrar seu próprio senso de pertencimento. É a capacidade de retornar ao trabalho criado em outro lugar e de resistir à procura desesperada por materiais em uma nova cidade. Em vez disso, Scarville e Nnebe aproveitam o fato de Miami oferecer reaproveitamento e reutilização na forma de materiais descartados nas ruas suburbanas ao redor, a imitação de conversas com pais imigrantes ao ouvir locais falando em línguas que você não entende e a distância de casa necessária para pensar na própria afinidade criativa em comunidades temporárias.

O 2024 WOPHA Artists-In-Residence Program (Programa WOPHA de Artistas em Residência 2024) é apoiado pelo Pérez CreARTE Grants Program (Programa de Bolsas Pérez CreARTE) da The Jorge M. Pérez Family Foundation (Fundação da Família Jorge M. Pérez) da Miami Foundation. O programa visa premiar mulheres e pessoas não-binárias artistas da fotografia locais, nacionais e internacionais com oportunidades de visitas a estúdios, apresentações de artistas, conversas em sala de aula e exposições, assim como conectá-las com a comunidade acadêmica e criativa do sul da Flórida.

No dia 23 de setembro de 2024, a Green Space Miami apresentará a exposição dos artistas em residência da WOPHA, uma apresentação dupla de Keisha Scarville e Kosisochukwu Nnebe com curadoria de Amanda Bradley, Curadora Associada de Programação da WOPHA. A exposição será ativada em conjunto com o Congresso WOPHA 2024 durante o mês de outubro e permanecerá em cartaz até 10 de novembro de 2024. Ampliando suas residências em Miami, as artistas exploram projetos pessoais que utilizam a fotografia como uma forma de investigar as relações de identidade, materialidade, transformação e paisagem. O Congresso WOPHA 2024, intitulado Como a Fotografia nos Ensina a Viver Agora, é uma convocação criativa e uma série de exposições que ocorrerão no Pérez Art Museum Miami (PAMM) e em vários locais do sul da Flórida de 23 a 26 de outubro. O Congresso deste ano destaca a contribuição indelével de mulheres e fotógrafes não-binárias na arte contemporânea e inicia discussões sobre mulheres, fotografia e pedagogia como um passo fundamental para o estabelecimento de uma instituição educacional dedicada ao estudo das práticas fotográficas, crítica e historiografia.

A Women Photographers International Archive (WOPHA – Arquivo Internacional de Mulheres Fotógrafas) é uma organização sem fins lucrativos 501(c)(3) fundada pela curadora de arte Aldeide Delgado e pelo artista Francisco Maso para pesquisar, promover, apoiar e educar sobre o papel das mulheres e de pessoas que se identificam como mulheres ou não-binárias na fotografia.


Isabella “Isa” Marie Garcia é profissional das artes independente, escritora e fotógrafa que vive em seu pântano natal em Miami, Flórida. Nos últimos seis anos, Garcia trabalhou com organizações artísticas locais e nacionais, como Burnaway, Ten North Group, LnS Gallery e UNTITLED, Art. Em 2023, Garcia recebeu uma bolsa WaveMaker de pesquisa e implementação do Locust Projects para seu projeto fotográfico intitulado What Happens When the Dust Settles? (O que acontece quando o pó baixa?). Mais informações sobre seu trabalho podem ser encontradas em isamxrie.com.

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