“Véxoa: Nós Sabemos”, aberta à visitação na Pinacoteca de São Paulo até 22 de março de 2021, é a primeira exposição dedicada à arte indígena realizada por essa instituição fundada há mais de um século. “Algumas instituições brasileiras estão revendo a forma de lidar com a arte indígena, mas ainda temos um longo percurso pela frente”, alerta a curadora Naine Terena em entrevista.
C&AL: Quando a arte contemporânea brasileira feita por indígenas começou a ser absorvida por espaços institucionais no país, como museus, sem o rótulo de “folclórica”?
Naine Terena: E difícil precisar uma data, mas acredito que isso venha acontecendo nos últimos dez anos, sobretudo a partir de 2018. A arte indígena, claro, sempre existiu, mas recentemente os artistas indígenas contemporâneos passaram a incorporar a ela novas ferramentas de expressão, como o vídeo e a fotografia. Isso ficou claro na exposição Teko Porã e ReAntropofagia [2019; Universidade Federal Fluminense (UFF)], com curadoria do [artista indígena] Denilson Baniwa e [do coordenador do Centro de Artes da UFF] Pedro Gradella, que traçou um panorama da produção indígena contemporânea brasileira com representantes de diversas etnias, entre eles Daiara Tukano, Moara Brasil e Jaider Esbell. Ao mesmo tempo que os artistas indígenas diversificaram seus suportes, algumas instituições brasileiras, como a Pinacoteca de São Paulo e o Museu de Arte de São Paulo, inspiradas pelo pensamento decolonial em pauta hoje no mundo, passaram a prestar mais atenção a essa produção.
C&AL: As instituições brasileiras estão revendo a forma de lidar com a arte indígena?
NT: Algumas sim, mas ainda temos um longo percurso pela frente no país. Não basta apenas querer montar uma exposição. É preciso preparar a equipe para manter um diálogo com os artistas e comunidades indígenas, além de compreender as especificidades dessa produção. A meu ver, a maior diferença em comparação à arte não indígena diz respeito à relação com o mercado. Algumas obras de artistas indígenas não têm preço, por exemplo.