Há muitos caminhos possíveis para falar sobre a prática de Abel Rodríguez, o artista indígena de origem Nonuya nascido na Amazônia colombiana que vem ganhando notabilidade no circuito internacional da arte contemporânea. Pode-se olhar para seus desenhos como uma valiosa fonte para estudos botânicos sobre uma flora que há décadas vem sendo dizimada. Suas ilustrações mostram em detalhes processos sobre as mudanças na vida da floresta após inundações (como em Ciclo anual del bosque de la veja, 2009-10) ou mitos sobre a origem do mundo (como em Árbol de la vida y de la abundancia, 2012). Muitas vezes, a flora também é retratada em contato com a fauna local, indicando o alimento dos animais daquela região.
Mas também é possível olhar para os desenhos de Rodríguez sob uma perspectiva artística, como tem acontecido. Especialmente após participação na Documenta 14, em 2017, seu trabalho vem ganhando forte presença em exposições de arte. E le fez parte, também, da 34ª Bienal de São Paulo, em 2021, e da 23ª Bienal de Sydney, em 2022. Rodríguez é representado pela galeria Instituto de Visión, uma das mais importantes da Colômbia.
O ponto de partida que conecta as duas histórias teve início nos anos 1980, em um encontro entre Mogaje Guihu, nome de origem de Abel, e Carlos Rodríguez, biólogo responsável pela filial colombiana da ONG holandesa Trobenpos, que buscava então guias locais para identificar plantas da botânica amazônica. Abel, que desde a infância foi treinado por um tio para ser um “nomeador de plantas”, “um depositário do conhecimento da comunidade sobre as diversas espécies botânicas da floresta, seus usos práticos e sua importância ritual”, como descreve o texto da 34ª Bienal de São Paulo, foi recomendado como a pessoa ideal.