Em um país no qual a ideia de nação pesa como uma cruz sobre os ombros, onde identidades múltiplas, atravessadas em muitas ocasiões, cristalizam-se em um binarismo obtuso, cabe questionar a existência de um sentimento de pertencimento, por parte de negras e negros, a uma Diáspora Africana em Cuba. Nós nos assumimos como afro-cubanos e/ou somos vistos como tais?
Pensar essa Diáspora como um espaço simbólico de manutenção e (re)invenção de identidades seria um caminho possível. No entanto, isso tem sido difícil, visto que a abordagem crítica desses temas foi adiada e muitas vezes até silenciada em função de um discurso político muito claro a respeito. Assim, é pelo menos conflituoso usar termos como “afro-cubanos”, “cultura negra”, “Diáspora Africana”. Quero fazer aqui um apanhado muito breve das maneiras como isso se reflete nas artes visuais cubanas.
Agora, a primeira coisa a saber é: normalmente, qualquer propósito de abordagem da problemática racial em Cuba vê-se confrontado com uma pretensa “homogeneidade nacional” como elemento contrastante. A persistência desse fenômeno deve-se, em grande parte, ao fato de Fidel Castro ter decretado, em 1962, o problema do racismo e da discriminação racial em Cuba como resolvido. Uma das consequências disso é que qualquer questionamento ou crítica passaram a ser considerados um ato contrarrevolucionário, um fator de divisão entre os cubanos. Não foi um fenômeno particular no âmbito social e político, mas refletiu-se também nas expressões artísticas em Cuba. No caso específico das artes visuais, existiram historicamente aproximações com a cultura afro-cubana a partir de perspectivas folclóricas ou outras, nas quais, para evitar conflitos, se dissolvia a ideia de identidade negra em uma identidade cubana.
No período colonial, entre os séculos 17 e 19, há obras que mostram o “mundo negro” na ilha. Negros e mestiços são apresentados em mercados, praças e engenhos, onde trabalhavam seja como escravos ou libertos. Obras de costumes desse tipo, que incluem tanto pinturas como gravuras, foram criadas principalmente por europeus que visitaram a ilha, algumas inclusive a partir de relatos de viajantes.
No que diz respeito às artes visuais contemporâneas cubanas, existe um grupo de artistas cujas obras giram em grande parte em torno do mundo afro-cubano, seja a partir de uma perspectiva que se aprofunda nas religiões, nos rituais, nos mitos e nas lendas quase com precisão etnográfica, seja como forma de se (re)inventar constantemente como seres negros, cubanos e artistas.