Akosua Adoma Owusu: Bem-vinda(o)s à selva

Beleza e força na cultura do cabelo negro

Intercalando diferentes narrativas como a dinâmica de um salão de cabeleireiros e celebridades decadentes, a exposição individual de Akosua Adoma Owusu retrata as complexidades da vida negra. A artista reflete sobre histórias pessoais, conectando-as a questões políticas mais abrangentes em um estilo acelerado, que reafirma o significado do corpo negro e de sua interação com o espaço. Essa abordagem é altamente influenciada pela “consciência tripla” que a artista tem por ser uma pessoa posicionada entre três culturas nos Estados Unidos.

Owusu tem uma prática rigorosa, que fica evidente em sua abordagem na trilogia Me Broni Ba (2009), Split Ends (2012) e White Afro (2019). Em Me Broni Ba, por exemplo, o parar e começar da ação nos ajudam a absorver mais detalhes e mais da complexa crítica que é criada em torno da beleza feminina. O observador fica inclinado a parar e considerar as questões que a artista está colocando. A narrativa da elevação dos padrões europeus de beleza sobre e acima daqueles da África e dos africanos da Diáspora é um motivo recorrente em filmes feitos por cineastas negros, como o curta A Girl like Me (2005), de Kiri Davis, ou o documentário My Nappy Roots: A Journey Through Black Hair-itage (2008), de Regina Kimbell. Na trilogia de Owusu, especialmente Me Broni Ba consegue capturar o que Maya Deren chamou de “acidentes controlados”: a menininha tendo seus cabelos trançados e caindo no sono; crianças chorando; e galos cantando. A câmera de Owusu é uma intrusa exigente nessas cenas domésticas cruas que qualquer pessoa de herança negra acharia potencialmente familiares.

A abordagem mais experimental pela qual Owusu opta em White Afro (2019), o último capítulo da trilogia, é um final adequado para a série. Somos inseridos nas cenas em parte pela narração no estilo da PBS, rede de TV educativa dos Estados Unidos, e pela hipnotizante releitura da experiência pessoal de sua mãe (em sua própria voz) ao aprender técnicas de penteados em Alexandria, Virgínia, no Sul dos EUA. Há uma interação fascinante de identidades negras através da trilogia que de certa forma as une, apesar de seus estilos muito diferentes, com fios de conexão mantendo as histórias intactas.

O movimento turbulento da câmera constrói um disfarce de texturas que nos leva a querer estar próximos, mas simultaneamente distantes. Incluindo heróis estadunidenses negros decadentes, tais como Bill Cosby e Michael Jackson, a exposição é um mecanismo interessante pelo qual às vezes queremos estar próximos da ação que ocorre na tela, mas somos repelidos pela escolha das personagens celebridades. É um momento para reflexão sobre histórias pessoais, mas também sobre questões políticas mais abrangentes. A instabilidade do trabalho de câmera de Owusu nos mantém conectados a ela como cineasta. Cedendo à sua “consciência tripla”, com tanto de seu próprio corpo no trabalho (por trás da câmera), amplificando seus áudios de múltiplas camadas, câmera trêmula e animação acelerada, ela reafirma a importância do corpo negro e de sua interação com o espaço. Em Pelourinho: They Don’t Really Care About Us, ela levanta a questão da dupla consciência através de uma carta escrita por W.E.B Dubois à embaixada brasileira, perguntando por que negros estadunidenses tinham suas entradas negadas como turistas no Brasil. Esse resgate oportuno da apaixonada missiva de Dubois alimenta a reflexão dentro desse ambiente atual de abuso dos direitos de imigração, direitos das mulheres e, especificamente, da violação dos corpos de pessoas negras e não-brancas.

Welcome to the Jungle continua aberta ao público no CCA Wattis Centre for Contemporary Arts, São Francisco, EUA, até 27 de julho de 2019.

Akosua Adoma Owusu (nascida em 1° de janeiro de 1984) é uma cineasta, produtora e fotógrafa ganense-estadunidense, cujos filmes e instalações abordam a colisão de identidades, na qual o imigrante africano baseado nos Estados Unidos tem uma “consciência tripla”. Owusu interpreta a noção de dupla consciência de Du Bois e cria uma terceira consciência ou espaço cinematográfico, representando diversas identidades, incluindo feminismo, queerness e imigrantes africanos interagindo nas culturas africana, americana branca e americana negra. 

Nan Collymore escreve, programa eventos de arte e produz adornos de bronze em Berkeley, Califórnia. Nascida em Londres, vive nos Estados Unidos desde 2006.

Traduzido do inglês por Soraia Vilela.

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