2024

Um novo despertar afro-indígena: o ano em revista

Do primeiro pavilhão brasileiro indígena em Veneza a um despertar afro-indígena, estas são alguns dos nossos destaques de 2024.

Se a mercantilização da produção cultural indígena é algo totalmente positivo é uma questão totalmente diferente, que merece sua própria dissertação de doutorado, especialmente quando grande parte da epistemologia indígena é inerentemente anticapitalista e voltada para a comunidade. De qualquer forma, houve cenas maravilhosas na 60ª Bienal de Veneza, incluindo a imponente instalação de MAHKU na fachada do pavilhão internacional no Giardini, que funcionou como um gesto emblemático. O próprio pavilhão do Brasil foi renomeado para Hãhãwpuá (o nome Pataxó para o território brasileiro) para receber sua primeira representação indígena. Entrevistei pessoalmente os curadores Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana, que me contaram sobre o processo de seleção de Glicéria Tupinambá, que convidou, ela própria, outros a participarem. Os curadores falaram em uma voz coletiva e me disseram, de forma memorável, que, acima de tudo, “a comunidade é mais importante do que a obra em si!”

A construção de comunidades aliada ao movimento decolonial, que está se firmando em todo o continente, é algo com que nós da C&AL nos envolvemos fielmente. Neste ano lançamos a série Afro-indígena, que analisa a interseção há muito negligenciada entre essas duas identidades no contexto de Abya Yala/Pindorama. Isso inclui uma matéria sobre a escultora mineira Maria Lira Marques, de 79 anos, escrita por Maya Quilolo, bem como minha entrevista com o pintor de mundos digitais Johan Samboni, de 29 anos, de Cali.

Realizamos vários workshops de redação crítica no continente americano, como no Centro Cultural BanReservas e na Universidade Autônoma de São Domingo, na capital da República Dominicana, na Jamaica Art Society, em Kingston, e em Dallas. Além disso, realizamos nosso primeiro workshop online focado no Caribe em conjunto com o Caribbean Cultural Institute, no Pérez Art Museum Miami – em três idiomas!

Nossa rede no continente está se expandindo rapidamente e isso é algo que queremos valorizar e manter. Por esse motivo, vários de nossos artigos são escritos por participantes de nossos workshops. Para citar alguns, temos um artigo sobre Tessa Mars e a espiritualidade haitiana, de Ervenshy Hugo Jean Louis; outro, sobre Ismael Davi e Exu, por Matheus Morani; mais um, sobre carnaval, corpo e território, escrito por Rachel Souza; e, ainda, sobre Keila Sankofa e a construção do espaço-tempo afro-indígena, de autoria de Kariny Martins.

Aproveitando nossas longas viagens por Abya Yala/Pindorama, lançamos a série Visitas ao Estúdio, na qual visitamos artistas em seus espaços criativos para uma troca intimista. Por enquanto, você pode acompanhar a visita aos estúdios de Anaïs Cheleux, fotógrafa de Guadalupe, e de Julianny Ariza Vólquez, artista dominicana que explora a identidade caribenha através de lentes indígenas, afrodescendentes e femininas, ambas proporcionadas a você pela nossa managing editor, Marny Garcia Mommertz.

Falando em Caribe, neste ano perdemos Caryl* Ivrisse Crochemar, curador martinicano e diretor-fundador do espace d’art contemporain 14N 61W. Ele era um apoiador engajado da C&, que nos conectou a muitos artistas em toda a região, e participou de nossa série de palestras no 1-54 Forum, em 2020. Continuaremos a saudar e celebrar sua vida e obra.

Para finalizar, gostaria de lembrar que, ao apoiar nosso trabalho e tornando-se um Moon Member no C& Patreon, você receberá uma C& Collector’s Box exclusiva, com todas as edições impressas das revistas C& América Latina e C& Magazine!

Will Furtado é editore-chefe da C& América Latina (C&AL).

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