Conversa com Florine Démosthène

Desafiando o ego para redefinir o cânone

A visão contemporânea de Florine Démosthène sobre o corpo – na forma de pinturas e colagens multimídia – representa aspectos distópicos de outro mundo e promove a exploração do nosso espírito divino pela artista. As protagonistas de Démosthène criticam os cânones da beleza através da narrativa de suas heroínas femininas autocriadas. Neste novo conjunto de trabalho, a artista pergunta: “Como nos conectamos com nossa essência interior? Como nos conectamos com nosso ‘eu’, quando nos desconectamos de histórias e religiões que nos foram ensinadas?” Magnus Rosengarten conversou com a artista sobre seu trabalho e, em particular, sobre como seu próprio corpo funciona como modelo.

C&: Acredito que isso certamente tenha o poder de nos transportar para uma dimensão menos dominada por construtos sociais. É assim que você espera que seu trabalho seja percebido?

FD: Sim, acho que seria bom se a arte, a música, a dança ou qualquer caminho criativo tivesse o poder da autorreflexão.

C&: Que histórias você está contando em seu trabalho?

FD: Acho que contar histórias é uma parte muito intrincada do meu trabalho. Há uma narrativa implícita e ela não precisa ser necessariamente linear. Mas, através do verdadeiro título do trabalho, há um tipo de conversa contínua. As pessoas tendem a ler meu trabalho como um autorretrato, porque ele muitas vezes é sobre mim mesma. No entanto, não é isso. Eu me uso como referência, como ponto de partida. Também uso, talvez, alguns aspectos da minha narrativa, da minha biografia. O aspecto narrativo é definitivamente uma grande parte do meu trabalho.

C&: Para você, existe uma forma de descrever a realização? Como ela poderia parecer e qual seria a sensação?

FD: É uma experiência altamente individual. Eu chamo isso de ser forjado pelo fogo. É preciso passar por esse processo. É como uma forma de alquimia.

C&: Para finalizar, a figura feminina é um tema em sua obra. O que você está trabalhando aqui? Como isso a ajuda a enfrentar o espaço entre a possibilidade e a realidade?

FD: A figura feminina é algo que tenho usado predominantemente por estar prontamente disponível, ou seja, sou eu. Não tenho que me pagar e sou confiável. Quero desafiar as ideias sobre o tamanho ou o visual que as mulheres supostamente deveriam ter. O que supostamente deveria ser visto como feminino e bonito. Eu queria ir a um lugar onde me sentisse tão desconfortável me usando em minha obra de arte, para sair da minha zona de conforto, que agora isso se tornou confortável. No começo, tratava-se de me desafiar, para então forjar a ideia de heroína, mas trata-se também de finalmente olhar para o aspecto mental de tudo isso. É sobre esses três pontos que venho construindo minha história.

Florine Démosthène: Between Possibility and Actuality (Entre possibilidade e realidade) esteve em cartaz na Galeria Mariane Ibrahim, em Chicago, EUA, até 21 de dezembro de 2019.

Florine Démosthène nasceu nos Estados Unidos e foi criada entre Porto Príncipe, no Haiti, e Nova York. Atualmente, vive entre Nova York, Acra e Joanesburgo. Démosthène obteve seu bacharelado em Belas Artes pela Parsons School of Design em Nova York, e seu mestrado em Belas Artes pela Hunter College-City University, também em Nova York.

Magnus Elias Rosengarten é escritor e artista. Atualmente mora em Los Angeles.

Traduzido para o português por Soraia Vilela.

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