Domitila de Paulo: colar e se reinventar
Foi compilando, fragmentando, acrescentando novo sentido a imagens consolidadas que a mineira Domitila de Paulo alinhavou seu retrato simbólico de artista visual e mulher negra após iniciar sua carreira como estilista e designer de moda. Pois, até que ponto a sua imagem estava representada nas peças que criava para marcas importantes? “Eu via poucas referências que me conduziam a entender a minha identidade e a identidade afro-brasileira”, relembra. O reencontro com a colagem – uma constante na época da faculdade de Moda – resultou na série Deusas no Orun (2015), criada sob inspiração da leitura da obra Igbadu, a cabeça da existência: mitos nagôs revelados, de Adilson de Oxalá, sobre os mitos da criação do universo religioso que deram origem ao culto dos orixás.
As telas conectando mulher, natureza e universo chamaram atenção e hoje suas colagens também ilustram capas de discos e de livros. A artista trabalha com colagem analógica, o que faz do garimpo por imagens em sebos um capítulo especial do processo criativo. “Sempre gostei de coletar publicações antigas, como curiosidade sobre como eram os materiais de outros tempos até chegar no tempo em que vivo. E de reconhecer, através do tato, a diferença de texturas de papéis e impressões, cores e abordagens”, comenta.