C&AL: Só em novembro de 2018, Kapwani Kiwanga e Sondra Perry ganharam dois prêmios artísticos importantes. Será que podemos falar de um novo interesse em mulheres negras no mundo da arte? E o que você acha que isso significa de fato?
ZS: Acho ambas as artistas muito interessantes e fico contente por estarem conseguindo recursos para produzir mais obras! E, como pessoa cínica, também estou preocupada com o significado da excepcionalização da negritude através dessas premiações e da concessão de dinheiro e legitimidade apenas a artistas negras cujas obras atingem algum padrão de excelência subjetivo e desconhecido, decidido pelos jurados da premiação. Isso não quer dizer que essas artistas não mereçam aclamação, porque a escassez de recursos é artificial: há oportunidades para nós todas sermos incluídas e incluirmos umas às outras. Mas isso é colocar em questão por que as instituições não estão sendo mais liberais em sua distribuição de recursos para artistas que estão chegando e pelas disciplinas de mídia/arte. Quero citar o contraste das premiações de Kiwanga e Perry com o prêmio Taylor Wessing para fotografia. John Edwin Mason lançou uma ótima série de posts no Twitter sobre o fato de que todos os ganhadores deste ano foram retratos de pessoas não brancas tirados por fotógrafos brancos; e eu, como ele diz nos posts, posso citar facilmente mulheres negras fotógrafas cuja obra de conteúdo similar é comparável ou melhor. Sinto que a decisão do mundo da arte de se interessar pela obra de mulheres negras está atrasada em muitos anos, e também é um pouco mais que suspeita. Mas ficaria muito agradecida se provassem que estou errada, ficaria contente em ver que o olhar institucional está mudando. Vamos então conseguir muito mais mulheres negras curadoras e galeristas, críticas e ensaístas de arte, juradas de premiações e festivais, diretoras de museus e arquivos e galerias. No entanto – quando os recursos e modos de produção artística e o discurso mudarem de mãos, essa será a prova de que o olhar e a estrutura estão mudando significativamente. E será o momento em que fecharei minha boca um pouquinho.
C&AL: Quais seu planos agora?
ZS: Venho pensando muito sobre violência e intersubjetividade. Estou dando sequência a minha série Man & Nature e exibi três de suas imagens em minha mostra, porque, como alguém que come carne, estou interessada em visualizações dos caminhos da alimentação e na relação simbiótica – em última instância tanto de dependência quanto de dominação – entre animais humanos e não humanos. Também estou fazendo visualizações da memorialização de genocídios e da negação de genocídios e vou viajar um pouco, começando em 2019, para iniciar esse trabalho. E também estou cursando o terceiro ano de doutorado, então só o que quero é finalizar esse doutorado tão rápido quanto possível, mantendo minha mente e meu corpo predominantemente intactos.
Elemental foi exibida na Galeria Ashara Ekundayo, em Oakland, EUA, em 2018
Zoe Samudzi é fotógrafa e escritora zimbabueana-americana, além de doutoranda em Sociologia Médica na Universidade da Califórnia.
Entrevista por Will Furtado.
Traduzido do inglês por Renata Ribeiro da Silva.