59a Bienal de Veneza

Jonathas de Andrade: trânsito entre o erudito e o popular

Convidado pelo curador Jacopo Crivelli Visconti, o artista alagoano Jonathas de Andrade faz a representação oficial do Brasil na 59a Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia. Sua obra Com o coração saindo pela boca aborda as manifestações populares como fontes absolutas da força da cultura e da reinvenção.

C&AL: O popular também está presente em suas obras anteriores, como em Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste. Como o trabalho da Bienal dialoga com seus interesses e pesquisas anteriores?


JA: Acredito que reúno vários de meus interesses neste projeto. Vejo o fascínio pela linguagem e pela palavra, o olhar para manifestações populares como fontes absolutas da força da cultura e da reinvenção, a ideia de coleção e índice como espinha dorsal para uma sistema de imagens, a vontade de navegar com ambiguidade pelo que há de intenso na existência e metáforas visuais. Gosto de desenvolver um tema em conjuntos de imagens, e neste projeto sigo com instalação de fotografias e uma experiência em vídeo, mas também me aventuro dando uns passos adiante no caminho da escultura, que é um terreno que sempre me despertou curiosidade.

C&AL: O corpo, entre a força física do trabalho e o erótico, ou como marcador de identidade, também é um elemento presentes em outros trabalhos seus. Qual é o papel do corpo em Com o coração saindo pela boca?


JA: O corpo neste trabalho navega um pouco por todos esses terrenos, mas, desta vez, o corpo ganha uma dimensão alegórica do Brasil. Através da linguagem, podemos nos aproximar do desconcerto universal da existência em outras culturas, transitando pela força criadora e desconcertante do erótico, pelas contradições da natureza e da ecologia, pelos prismas das múltiplas identidades, e pela beleza aflitiva da existência.

C&AL: Para o trabalho, você criou fotografias, esculturas e um vídeo. Por que a escolha dessas mídias?
JA: O coração que sai pela boca é como um sentimento de gravidade que é tanto de um pico de emoção como de uma quase vertigem. Sempre me pareceu instigante tentar dar conta desse pontapé conceitual de múltiplas formas. As esculturas tomam o espaço e se relacionam com o edifício modernista que é o pavilhão. A coleção de expressões ocupa uma constante durante a exposição, como acontece em projetos meus anteriores, como o Ressaca Tropical. Gosto de pensar fotografias como um conjunto de imagens que, como um todo, compõem uma certa complexidade sensorial. E o vídeo traz o som e a potência da narrativa, da imagem em movimento, e da beleza mítica, do realismo fantástico latino americano, e da capacidade de sonorizar todo o espaço. As esculturas podem ter uma dimensão cinética e sensorial, que convidam o público a se comportar fisicamente no espaço diante da presença delas. Gosto de pensar arte como um meio que me chama a provocar sensações e envolver o público em jogos de significados que falam sobre o presente e convocam o repertório de quem chega para completar o sentido do que tento trazer.

Jonathas de Andrade é um artista alagoano que trabalha com temas sociais através de instalações, vídeos e fotografias.

Camila Gonzatto é uma das editoras da revista C& América Latina.

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