O Salão Nacional de Artistas em Bogotá, Colômbia, explora diversas perspectivas sobre a arte contemporânea dentro e fora do país e nos convida a investigar o reverso de realidades muito presentes, mas frequentemente invisíveis.
Miriam Simun, Seu desejo de respirar é uma mentira, 2019. Vídeo. Universos divididos, Museo de Arte Moderna de Bogotá.
O 45º Salão Nacional de Artistas em Bogotá, Colômbia, foi construído a partir de interpretações do tema central O reverso da trama, com obras que questionam os limites do que pode ser chamado de arte. Alejandro Martín, diretor artístico do evento, reuniu uma equipe curatorial diversificada, que convidou mais de 160 artistas da Colômbia e de outros países, como México, Estados Unidos, Brasil, Venezuela, Países Baixos e Espanha, entre outros.
Duas curadorias servem como teoria geral e manifesto do salão. La fábula de Aracne nos coloca diante de obras que questionam os tecidos invisíveis que sustentam as realidades em que vivemos; e Arquitecturas narrativas indaga sobre a relação crítica entre a trama urbana e social e as estruturas visuais e discursivas dos quadrinhos. Destacam-se as exposições Universos desdoblados e Contrainformación. A primeira explora reencontros com outras dimensões e outros tempos, enquanto a segunda se embasa na sobreposição de estruturas ou modelos urbanos como uma expressão de projetos ideológicos, políticos e econômicos.
Talvez o mais interessante do atual Salão sejam os projetos que escapam a formatos tradicionais: Instancias, por exemplo, propõe expandir a forma sob a qual as obras se fazem presentes, com obras que transitam confortavelmente entre um meio e outro; Mitopía convida coletivos artísticos e espaços independentes a habitar um espaço a partir do conceito de “zona temporariamente autônoma” formulado por Hakim Bey; Llamitas al viento prossegue com artistas que entendem o desenho ou a fotografia como prática cotidiana e impulso vital; Lenguajes de la injuria explora os limites entre o corpo e a linguagem a partir de ações performáticas; Espacios de interferencia explora o som como experiência vital, ao mesmo tempo em que questiona o conceito de domesticação através de residências-laboratórios, enquanto Todo es radio convida a pensar sobre o rádio como espaço de ação coletiva e reflexão artística. Antes del amanecer toma a pedagogia como uma série de ações ligadas a contextos determinados, mas também como ato performático e transformador. Pastas El Gallo usa uma fábrica abandonada como cenário para intervenções de arte in situ. Por fim, a Cátedra performativa oferece uma programação intensa de performances, conversas e intervenções no espaço público.
O 45º Salão Nacional de Artistas acontece em Bogotá, Colômbia, de 14 de setembro a 4 de novembro de 2019.
Texto e fotos: Ana Ruiza Valencia, vive e trabalha em Bogotá, Colômbia.
Adalberto Calvo, Asedio, 2019. Universos divididos, Museu de Arte Moderna de Bogotá.
Julieth Morales, Srusral Mora Kup (Mulheres jovens girando), 2018; Recuperar a terra para recuperar tudo, 2017. A fábula de Aracne, Museu de Artes Visuais da Universidade Jorge Tadeo Lozano.
Jota Mombaça, Assim desaparecemos, performance, 2 de outubro, 2019. Centro de Memória, Paz e Reconciliação.
Gabriela Pinilla, O ramo da oliveira que não germinou, 2009-2019. Contra-informação, Galeria Santa Fé.
Delcy Morelos, As costas da minha superfície, 2019. A fábula de Aracne, Museu de Artes Visuais da Universidade Jorge Tadeo Lozano.
Quinta-feira de Voguing. Casa de Tupamaras, convidados por El Parche Residência Artística. Projeto Mitopía, O reverso da trama, Laboratório Interdisciplinar de Artes. Foto: cortesiaa Mitopía, O reverso da trama.
Powerpaola e Lucas Ospina, Mural, Centro Colombo Americano. Arquiteturas Narrativas. A peça foi censurada e pintada de branco pela instituição, e depois repintada pelos artistas e outras pessoas que se juntaram ao ato contra a censura.
Inty Maleywa, séries Desenterrando memórias, 2017. Contra-informação, ASAB.
Manuel Hernández, Bandeira negra, 2019. Pequenas chamas ao vento. O parque de estacionamento.