Conversa com

Samera Paz: arte, comunidade e vulnerabilidade

Nascida em Washington D.C., Samera Paz cria obras em 2D e performances que refletem as experiências sociais e políticas de uma mulher negra nos Estados Unidos. Ela conversou conosco sobre os riscos de documentar sua própria comunidade e os impulsos e a rebelião que correm em seu sangue.

C&AL: Sua obra é permeada por ideias de justiça social. Qual sua opinião sobre o poder da arte no apoio de protestos sociais e na promoção de mudanças?

SP: A arte é uma ponte e uma ferramenta no movimento de justiça social. Cresci como uma garota negra em uma comunidade de baixa renda, com uma mãe solteira imigrante-transformada-em-cidadã. Tinha experiências e opiniões das quais não tinha medo e que estava determinada a compartilhar através da minha arte. Quando você cresce em um lugar como Washington D.C, você vê injustiça em tudo a seu redor. Usei a arte para lidar com essas questões pelas quais eu e outras pessoas da minha comunidade estavam passando e testemunhando. Talvez tenha sido mais corajosa em meus primeiros anos, mas quando penso em por que sou apaixonada por ativismo e arte, penso em como o meu eu mais jovem se sentia. Capaz. Fazer arte amplificava a minha voz de ativista, me dava propósito e reforçava minhas crenças de que alguém como eu podia gerar mudanças na sua comunidade e no mundo.

C&AL: Um de seus projetos fotográficos é baseado no seu arquivo familiar, especialmente em suas imagens quando mais jovem. Pode falar mais sobre esse trabalho?

SP: Sentir nostalgia constantemente é uma das minhas muitas características que compartilho com a geração do milênio. Dei início a uma série de fotografias nas quais recrio imagens de álbuns de fotografia da minha própria infância. Queria capturar o tempo que passou entre meu eu da infância e a mulher que sou hoje. O cenário de fundo dessas imagens é minha cidade natal, Washington D.C, e o processo de retornar aos lugares exatos mais de 20 anos depois foi surreal e estimulou minhas emoções durante todo o processo. Acredito que a história pode falar bastante sobre o futuro e, quanto mais penso sobre o projeto, mais sinto que precisava voltar ao passado para alinhar e reconfortar meu eu mais jovem.

C&AL: Você mencionou que sua performance lhe dá espaço para praticar abertamente a vulnerabilidade e se conectar com o público. Pode falar mais especificamente sobre um projeto de performance que gerou transformações?

SP: Na performance de que mais me orgulho, eu estava em uma galeria cheia de balões. Ela aconteceu na Chela Mitchell Gallery, em Washington D.C., em agosto de 2021, e fez parte de uma exposição coletiva chamada I Envy the Wind (Invejo o vento). As pessoas convidadas eram instruídas a pegar balões e trazê-los para mim enquanto eu andava pelo espaço, estourando cada um deles. A performance era sobre encarar meu medo de infância, que era o som de balões estourando. Ruídos altos me incomodavam quando criança e isso perdurou na idade adulta. A razão pela qual tenho orgulho dessa performance é que foi uma experiência muito vulnerável e íntima para mim e para as pessoas convidadas que participaram. Não é todo dia que você pode enfrentar seus medos em frente a um público. Eu me senti tão apoiada e criativa, e essa performance é para mim um daqueles momentos em que penso: você simplesmente tinha que estar lá.

C&AL: Você está trabalhando em algum projeto novo?

SP: O ano de 2023 é importante para mim. É o último ano da minha bolsa no programa Hamiltonian Artists, e tenho duas exposições muito importantes vindo aí. Em alguns meses, farei parte de uma exposição coletiva no Museu Kreeger, em Washington D.C. Será a primeira vez que vou expor meu trabalho em um museu! No fim do ano, farei uma exposição individual no Hamiltonian. Serão obras novas, e tudo em que estou trabalhando é para essas duas exposições. Tenho tantas ideias grandes e já é tempo de começar a dar vida a elas. Nesse ano, não se trata apenas de voltar a fazer arte, mas de realmente acreditar em mim, de me impulsionar como pessoa e me tornar a artista que sei que quero ser.


Raquel Villar-Pérez
é pesquisadora acadêmica, curadora de arte e escritora, interessada em discursos pós-coloniais e decoloniais na arte contemporânea e na literatura do Sul Global sociopolítico. Sua pesquisa concentra-se no trabalho de mulheres artistas que abordam noções de feminismo transnacional, justiça social e ambiental, e em fórmulas experimentais de apresentar essas noções na arte contemporânea.

Tradução: Renata da Ribeira

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