Axé Bahia

O poder da arte em uma metrópole afro-brasileira

O livro oferece um contexto abrangente que combina aspectos históricos com abordagens culturais e da história da arte, apresentando descrições claras e atraentes da vida na Bahia.

O componente espiritual e a música

O livro abrange com propriedade a interseção entre o componente espiritual profundamente preservado da cultura baiana e a vida apaixonadamente musical de muitos baianos. O Candomblé, que tem suas raízes no espiritualismo e na religião africana ocidental, foi elaborado por sacerdotes africanos que se encontravam entre os capturados pelos portugueses e que então recriaram seus sistemas de crenças ao longo dos séculos. No coração dessa religião está o conceito de que Olodumaré é o criador de tudo e de que os orixás são deuses menos poderosos a seu serviço.

Curiosamente, na Bahia a espiritualidade mantém uma conexão tangível com o carnaval e com a política. O Ilê Ayê (em iorubá, “a casa da vida”), foi formado por um grupo de jovens trabalhadores da Liberdade que se opunham à agenda neoliberal de “democracia racial” promovida pela elite conservadora. Eles buscavam promover uma abordagem mais empoderadora e se valeram de sua influência para formar um contingente mais representativo de músicos durante o carnaval. Ao longo das décadas, desde seu início em meados dos anos 70, os blocos afro alcançaram sucesso mundial, compartilhando o som de suas batidas percussivas influenciadas por ritmos africanos com artistas como Michael Jackson e Talking Heads.

As mulheres da Bahia

A representação das mulheres tem um papel importante no livro, nas fotografias e nos desenhos do retrato familiar das mulheres baianas vestidas de branco com turbantes nas cabeças. Essas imagens estão por todo o livro, mas justapostas pela crítica à posição estagnada da figura da baiana. Em seu ensaio, Heather Shirey cita o teórico cultural Stuart Hall ao afirmar que a identidade é um processo incompleto “sempre constituído a partir de uma representação interior, não exterior”. Ela vai além ao interpretar a imagem construída da baiana como aprisionada “em uma visão essencializada da feminilidade baiana, que é frequentemente exoticizada, ‘alterizada’, congelada no tempo e comercializada”.

Os trabalhos fotográficos de Helen Salomão da Silva e Silva, como por exemplo Gorda Flor (2016) e Igbagbo Fé (2015), apresentam uma pesquisa mais aprofundada e mutável das mulheres baianas. Como Shirey observa, “as mulheres da Bahia se envolvem com o espectador através de poses e expressões confiantes. Os penteados e a indumentária são usados para expressar individualidade, desafiando a tendência de se reduzir as mulheres da Bahia a um ‘tipo’ definido por um estilo de se vestir”.

Minimizando o olhar etnográfico

Quando Roland Barthes falou sobre as tendências subversivas na fotografia, ele concluiu que, “em última análise, a fotografia não é subversiva quando amedronta, repele ou mesmo estigmatiza, mas quando é meditativa, quando pensa”. As imagens de Da Silva e Silva ajudam a ilustrar essa ideia, assim como as de Mário Cravo Neto. O ensaio devotado a sua obra trata de sua imersão nos aspectos performativos do carnaval e nos requintados rituais do Candomblé. Alguns de seus trabalhos remetem ao fotógrafo Rotimi Fani-Kayode – através de formas musculares erotizadas dos corpos masculinos, particularmente dos de pele escura, e da inclusão da natureza. Gledhill e Conduru concluem que Cravo Neto é um cronista fundamental da vida baiana, “minimizando o olhar etnográfico que dominava os trabalhos de Voltaire, Fraga e Pierre Verger”.

Embora o livro seja bastante formal em sua orientação de estilo, oferecendo um contexto sério e abrangente que combina aspectos históricos com abordagens culturais e da história da arte, ele também apresenta descrições claras e atraentes da vida na Bahia, que afirmam sua posição como um estado influente, reconhecido internacionalmente.

Patrick Polk, Roberto Conduru, Sabrina Gedhill e Randal Johnson (Editores). Axé Bahia. The Power of Art in a Afro-Brazilian Metropolis. Publicado pelo Fowler Museum, UCLA, 2018.

 

Nan Collymore escreve, programa eventos de arte e cria adornos de bonze em Berkeley, Califórnia. Nascida em Londres, vive nos Estados Unidos desde 2006.

Traduzido do inglês por Uirá Catani.

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