Julia Bryan-Wilson demonstra que fibras e tecidos são guardiães da memória com seus conjuntos de abstrações complexas de gênero, culturais, históricas e de classe que, apesar da aparente inocência visual, são carregados de significados profundos. A beleza em todos os capítulos de Fray, intercalados com imagens suntuosas, é a beleza da natureza frágil do tecido.
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Em Read Thread / The Story of the Red Thread ([Linhas conhecidas / A história do cordão vermelho], Sternberg Press, 2017) o leitor deve esperar de Cecilia Vicuña o inesperado: várias ocorrências de cordões de lã vermelhos graciosamente distribuídos em diferentes espaços – uma árvore, a rua, uma bicicleta. Alguns são trançados, como camas de gato de mão em diferentes cenas, outros num único fio, como quipos, pendentes. Sua releitura do quipo (o aparato têxtil de registro contábil utilizado entre 1350 e 1532 na região andina populada pelos incas) é uma forma de evocar uma história ritualística de sua ancestralidade, ao mesmo tempo que tece uma crítica da perda desses sistemas ancestrais de comunicação, em parte por causa da guerra, em parte pelas forças coloniais espanholas.
A visualidade do cordão vermelho de Vicuña traz uma poderosa reflexão sobre diversos pontos. A cor vermelha simboliza sangue, vísceras, menstruação e o que vem de dentro de nós. Há também a ideia do vermelho como análogo à oposição política – comunismo, revolução –, sendo a revolução algo com o qual Vicuña teria familiaridade, tendo crescido no Chile pós-Allende com o constante temor e a intimidação associados ao regime de Pinochet.