Exposições
14 Maio 2021 - 30 Janeiro 2022
MASP / São Paulo, Brasil
Conceição dos Bugres, Sem título, circa 1970. Acervo MASP, doação, Edmar Pinto Costa, 2020. Foto: Eduardo Ortega
Conceição Freitas da Silva (Povinho de Santiago, Rio Grande do Sul, 1914 – Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 1984), mais conhecida como Conceição dos Bugres, é a artista escolhida para dar início ao biênio das Histórias brasileiras no MASP. A exposição Conceição dos Bugres: tudo é da natureza do mundo fica em cartaz até 30 de janeiro de 2022. A partir do segundo semestre, essa mostra irá coincidir com as individuais de Erika Verzutti e Maria Martins (1894-1973), enfatizando o papel das mulheres para a linguagem escultórica no Brasil.
“A trajetória da Conceição dos Bugres sofreu um processo de apagamento como a de muitos artistas da chamada ‘arte popular brasileira’. Há uma tentativa de inserção dela nesse grande escaninho, o que nem sempre é algo positivo para o artista”, explica Fernando Oliva, curador no MASP.
Conceição foi uma artista ímpar para a história da escultura no Brasil, reconhecida por sua produção dos chamados “bugres”, trabalhos geralmente esculpidos em madeira e cobertos por cera de abelha ou parafina e tinta, mas que também podem ser feitos em pedra sabão e arenito.
O termo “bugre” tem sido questionado por sua dimensão pejorativa, principalmente por ser utilizado em referência à própria origem da artista; é indiciário do processo de discriminação contra as populações indígenas no país. No Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, organizado por Antônio Geraldo da Cunha, quer dizer “designação genérica dada ao índio, especialmente o bravio e/ou guerreiro, por extensão, rude e grosseiro”. No entanto, com o tempo, o nome das peças passaram a nomear também a artista, numa relação ambígua entre a artista e suas esculturas. Os bugres de Conceição, por sua vez, figuram personagens de tipo característico fundamentados na repetição do uso dos materiais e formas e na especificidade de seus traços. Apesar de apresentarem um padrão que as define, suas esculturas têm subconjuntos variados e são dotadas de fortes e singulares personalidades, distinguíveis em relação a sutis e apuradas modificações na forma, mas também à expressão, revelando a excelência da artista.
Segundo Oliva, a mostra é justamente baseada nessa fricção entre a repetição e a diferença. “As obras dela, supostamente, se parecem, mas existem também muitas particularidades que ainda não foram estudadas”, diz. “Como é uma artista que foi deixada à margem, existem alguns clichês sobre a obra dela, e a repetição é um deles”, completa. Assim como as comparações com os ex-votos do nordeste brasileiro e as aproximações com o minimalismo de Brancusi. O diferencial, no MASP, além da exposição em si, que já é uma novidade, será olhar para as diferenças entre as obras dela e ressaltá-las.
A exposição reúne 113 obras da artista, a maioria vinda de coleções particulares. Há pouquíssimas obras dela em acervos públicos, fato que também diz sobre esse processo de apagamento. Hoje, o trabalho dela se encontra apenas nas coleções do Museu Afro Brasil e do Itaú Cultural.
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