Exposiciones
25 febrero 2022 - 05 junio 2022
MASP / São Paulo, Brasil
Abdias Nascimento, Teogonia afro-brasileira n. 2: Iansã, Obatalá, Oxum, Oxossi, Yemanjá, Ogum, Ossaim, Xangô, Exu, 1972, Acrílica sobre tela, 102 x 152 cm. Acervo Ipeafro, Rio de Janeiro.
O MASP apresenta a mostra Abdias Nascimento: um artista panamefricano, que ocupa os espaços da galeria e do mezanino, no 1o subsolo do museu. Com curadoria de Amanda Carneiro, curadora assistente, e Tomás Toledo, curador-chefe do MASP, a exposição está inserida no biênio dedicado às Histórias Brasileiras no museu e exibe a faceta artística de Abdias Nascimento (1914-2011), intelectual, ativista político, dramaturgo, ator, escritor e diretor.
Figura fundamental para a história do país, Nascimento desempenhou papéis que marcaram o século 20 em diversos campos, tais como a política, a cultura e a intelectualidade. Suas pinturas associam orixás à abstração geométrica, formas livres a símbolos africanos — como os adinkras —, além de explorarem gêneros mais tradicionais, como paisagens e retratos. No Brasil, seu trabalho artístico ainda merece maior atenção e esta é, portanto, a razão da exposição Abdias Nascimento: um artista panamefricano e do catálogo que a acompanha.
Reunindo 62 pinturas — desde o início de sua produção em 1968 até o ano de 1998 —, a mostra enfatiza o repertório de ideias, cores e formas do movimento pan-africanista, com noções, fontes e imaginário ladino-amefricano — termo cunhado por Lélia Gonzalez (1935-1994), amiga e interlocutora política e intelectual do artista e formuladora do conceito de amefricanidade para se referir à experiência negra na América Latina.
A mostra retoma conceitos formulados por Nascimento, como o quilombismo, para destacar o projeto de transformação social sobre bases que retomam a experiência dos quilombos. O artista materializou seu pensamento também na pintura homônima, presente na exposição e visualmente representada pela união do tridente de Exu aos ferros de Ogum, divindades iorubás que se popularizaram no Brasil com a umbanda e o candomblé.
Em 1968, ano que marca o início de sua produção de pinturas e sua mudança para os Estados Unidos, Nascimento já era um nome laureado no Brasil. Participou da formação da Frente Negra Brasileira, movimento e depois partido político criado na década de 1930, e da fundação do Teatro Experimental do Negro, o TEN, uma das mais radicais experiências de dramaturgia do país, nos anos 1940; realizou o concurso Cristo de cor, que contou com diversos artistas, como Djanira da Motta e Silva (1914-1979), para a representação de um Jesus negro, em 1955; e na mesma década idealizou o Museu de Arte Negra, cujo acervo é referência nos debates sobre museus e comunidades. Já seus trabalhos de artes visuais foram mais celebrados em solo estadunidense, onde realizou exposições nos conceituados Studio Museum em Harlem, Nova York; Museum of Fine Arts, em Syracuse; e Crypt Gallery, da Universidade de Columbia.
Parte das pinturas desta mostra apresenta ao público a pesquisa de Nascimento sobre símbolos e bandeiras de projetos e identidades nacionais, que podem ser lidas de uma perspectiva simultaneamente pan-africanista e amefricanista. Os trabalhos Okê Oxóssi e Xangô, ambos de 1970, por exemplo, estabelecem paralelos entre representações do Brasil e dos Estados Unidos por meio de uma recomposição de símbolos nacionais, mais especificamente os elementos de suas bandeiras. Segundo Amanda Carneiro, curadora da exposição, “ao subverter o sentido das bandeiras, incorporando referências de matriz africana, questionam-se medidas de incorporação (ou seria retomada?) de signos culturais mais plurais, não exclusivamente alicerçados no eurocentrismo, repensando as comunidades imaginadas”.
MASP Avenida Paulista, 1578. São Paulo/SP, Brasil Visitação: terça grátis Qualicorp, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas Agendamento online obrigatório pelo link https://masp.org.br/visite#visit-tickets
www.masp.org.br