O futebol é mais do que somente um jogo. Diversos artistas contemporâneos observam com precisão os lados ocultos dessa paixão global. A curadora e autora Aldeide Delgado aborda o tema para Contemporary And (C&) América Latina.
Lyle Ashton Harris, Verona #1, 2001-2004. Cortesia do artista.
Roberto Guerrero, Rito de passe – trânsito rápido e suave até a outra equipe, 2015. Digital color video. Cortesia do artista.
Wiley Kehinde, Samuel-Eto'o, 2010. Coleção privada. Cortesia do artista e Roberts &Tilton, Los Angeles, Califórnia.
Jaime Lauriano, Morte súbita, 2014. Vídeo em loop. Cortesia do artista.
Vista da exposição The World's Game, 2018, Pérez Art Museum Miami. Cortesia de Pérez Art Museum Miami.
Paralelamente à Copa do Mundo de 2018 na Rússia, o Pérez Art Museum Miami (PAMM) abre a exposição The World´s Game: Fútbol y arte contemporáneo (O jogo mundial: futebol e arte contemporânea), que chama a atenção para uma das linguagens coletivas de maior apelo internacional. “O tema do futebol foi abordado universalmente por artistas contemporâneos durante muito tempo”, afirma Franklin Sirmans, diretor do PAMM e curador da mostra. “Muitos deles se envolvem com o jogo como uma forma de conexão comum entre as pessoas de todo o mundo”.
The World´s Game: Futebol e arte contemporânea explora as relações entre arte e futebol a partir da questão: como os artistas refletem sobre as implicações do futebol na sociedade? Alguns dos nomes incluídos na exposição são Miguel Calderón, Lyndon Barrois Jr., Stephen Dean, Kehinde Wiley, Vik Muniz, Antoni Muntadas, Wendy White, Andy Warhol e Espoir Kennedy, cujas obras se voltam para o fenômeno dos fãs (torcedores fanáticos) e ídolos midiáticos. Por exemplo, o vídeo de 90 minutos de Miguel Calderón que inaugura a exibição, México versus. Brasil (2004), mostra um jogo imaginário, no qual o México derrota o Brasil com um placar de 17 a 0. Calderón, que compôs o vídeo compilando cenas de encontros futebolísticos entre os dois países, destaca o momento do gol como a “fantasia mais extravagante de um fanático pelo jogo”. A videoinstalação de Stephen Dean, Volta (2002-2003) dá continuidade a essa proposta a partir da documentação da paisagem visual, em cores, gerada por uma enorme bandeira levantada por espectadores no estádio. Enquanto isso, o retrato feito por Kehinde Wiley representa o atacante camaronês Samuel Eto’o, detentor do recorde de prêmios como Jogador Africano do Ano, que ganhou quatro vezes.
Wiley Kehinde, Samuel-Eto'o, 2010. Coleção privada. Cortesia do artista e Roberts &Tilton, Los Angeles, Califórnia
Taryn Simon expõe uma fotografia de grande formato centrada no arranjo floral que decorou a mesa de negociação da FIFA, quando da decisão de proibir que terceiros se apropriem dos direitos econômicos dos jogadores de futebol. A relação com a esfera política também é percebida nos trabalhos de Gustavo Artigas, Lyle Ashton Harris, Jamilah Sabur, Jaime Luriano, Melanie Smith e Rafael Ortega, Penny Siopis e Paulo Nazareth. No caso deste último, suas serigrafias da série Produtos de genocídio (2015-2016) mostra os logotipos de equipes de futebol que têm o nome de etnias indígenas quase extintas, como os Guarani e os Tupi.
O vídeo de Jaime Lauriano, Morte súbita (2014), examina os legados da violência da ditadura militar brasileira (1964-1985) mediante o contraste entre rostos cobertos pela camiseta da vitória brasileira no Mundial de 1970 e uma voz em off que recita os nomes dos dissidentes desaparecidos ou assassinados durante o mesmo ano.
Satch Hoyt aborda as histórias culturais relacionadas com a Diáspora africana. Em particular, a obra Kick That (2006) refere-se às bananas lançadas aos jogadores negros por seus opositores e espectadores europeus, através da apresentação de uma bola de futebol sobre um suporte de bananas de bronze. Outra perspectiva é oferecida por Adler Guerrier, para quem o futebol representa uma grande oportunidade de união das Diásporas africana e caribenha para além das fronteiras nacionais.
Vista da exibição The World's Game, 2018, Pérez Art Museum Miami. Cortesia de Pérez Art Museum Miami
The World´s Game: Futebol e arte contemporânea reúne cerca de 50 trabalhos de mais de 30 artistas que abarcam vídeo, fotografia, escultura, pintura e instalações. A exposição destaca-se principalmente por dois elementos: o primeiro consiste na ânsia de problematização do esporte mediante o reflexo de conflitos associados – para citar apenas alguns exemplos – como a violência, o nacionalismo, a religião, o machismo, a identidade e a globalização. E o segundo pelo alcance geográfico representado na mostra mediante a inclusão de artistas provenientes de vários países como Argentina, Gana, Itália, México, Brasil, Costa Rica, Guatemala, Equador, Bolívia, Haiti, Jamaica, Estados Unidos, entre outros. Dentre eles vale destacar Alexandre Arrechea, George Afedzi Hughes, Bhakti Baxter, Chris Beas, Miguel Calderón, Darío Escobar, Generic Art Solutions, Roberto Guerrero, Robin Rhode, Quisqueya Henríquez, Antoni Muntadas, Nelson Leirner, Hank Willis Thomas, Sinuhé Vega Negrin, Igor Vidor, Paul Pfeiffer e Wendy White.
The World´s Game: Futebol e arte contemporânea, Pérez Art Museum Miami (PAMM), de 13 de abril a 2 de setembro.
http://pamm.org/futbol
Aldeide Delgado é historiadora e curadora independente. Foi premiada com a Bolsa de Pesquisa e Produção de Texto Crítico 2017, concedida por Teor/ética. Seus interesses incluem gênero, identidade racial, fotografia e abstração nas artes visuais. Foi oradora no California Institute of Arts, Centro Cultural Espanhol Miami, Universidade de Havana, Casa das Américas, Biblioteca Nacional de Cuba e 12ª Bienal de Havana. Estudou História da Arte na Universidade de Havana (2011-2016). Seus artigos foram publicados em Art OnCuba, Cuban Art News,Terremoto e Artishock. É colaboradora de Artishock em Miami.
Traduzido do espanhol por Nathália Dothling Reis.