Conversamos com a artista nova-iorquina sobre feminilidade e invisibilidade da mulher negra, bem como a atração dos trópicos e do Caribe.
Adrienne Elise Tarver, "Origin: Fictions of Belonging" – calafetagem e acrílico sobre tela de arame - Wave Hill, Espaço do Projeto Sunroom - abril/maio 2018.
Adrienne Elise Tarver, peças de tapeçaria bordada da obra Manifesting Paradise, 50 x 36 polegadas, 2021.
Baseada em Nova York, Adrienne Elise Tarver é uma artista interdisciplinar cujo trabalho aborda a identidade e a invisibilidade da mulher negra, bem como a história dos trópicos. A prática de Tarver abrange pintura, instalação, fotografia, vídeo e escultura. Nesta entrevista, ela conta a Kendra Walker sobre o início e o desenvolvimento de sua prática artística.
Contemporary And: Como você foi introduzida na arte como prática?
Adrienne Elise Tarver: Minhas formações de pré-graduação e graduação tiveram foco em pintura. Meu envolvimento com a arte durante o ensino médio e a razão pela qual entrei nesse campo têm a ver com o fato de eu ter sido uma adolescente confusa. Eu não tinha certeza do que queria fazer. Originalmente pensei que queria ser arquiteta, mas depois constatei que isso não combinava comigo por causa de toda a parte de engenharia. Foram meus pais que me encorajaram a me inscrever na Escola de Artes da Universidade de Boston, para onde acabei indo. Ou seja, recebi muito apoio da minha família ao longo da minha carreira, mesmo que eles não entendam ou não tenham entendido totalmente o que faço. Depois fui para a pós-graduação na Escola do Instituto de Artes de Chicago. Foi aí que minha prática realmente se abriu e comecei a seguir conceitos mais do que materiais.
C&: Você acha que a cidade de Chicago e as pessoas que a cercavam tiveram algo a ver com expansão da sua prática para outras mídias?
AET: Sim, acho que há uma série de razões pelas quais Chicago influenciou nessa questão. Passei meus anos de ensino fundamental e médio nos subúrbios da cidade. Ir para a pós-graduação em Chicago foi minha primeira volta para casa. Durante esse período, visitava regularmente meus pais e a casa onde passei a infância. Meu quarto tinha um monte de materiais que eram interessantes para mim mais do que apenas pintar e ir a uma loja de arte. Comecei a fazer vários trabalhos nos quais trazia todos os meus animais de pelúcia de infância para meu estúdio. Passei a olhar para fotos antigas de família. E passei a usar tecido – minha mãe costurava muito e tinha muitos tecidos não utilizados. Foi aí que comecei realmente a valorizar esses objetos e materiais no mesmo nível hierárquico em que valorizava a tinta a óleo ou qualquer outro material de arte tradicional.
C&: Você diria que seus pensamentos sobre visibilidade ou sobre ser invisível têm algo a ver com sua vida pessoal?
AET: Acho que muitas das coisas que tenho usado no meu trabalho provêm de algum lugar super pessoal, mas depois se manifestam de maneira mais amplamente aplicadas.
Uso esse tipo de figura substituta, que às vezes pode ter a ver comigo, mas também pode representar alguém como minha tia, minha mãe ou minhas amigas. Funciona como um canal para explorar muitos sentimentos diferentes. Essa existência abrange especificamente mulheres negras e não brancas – há partes de mim, mas há partes de outras pessoas nela também.
No meu trabalho penso muito na ideia de que a invisibilidade é realmente uma superpotência. Venho pensando sobre visibilidade há muito tempo. [Como mulher negra], espera-se que você sirva as pessoas mas não seja vista, ou que atue mas não seja ouvida. Então acho que, quando uso esse tipo de figura invisível, se trata da invisibilidade realmente como uma superpotência.
C&: Por que os trópicos são importantes no seu trabalho?
AET: Os trópicos conectam com ou servem de base para a identidade dos negros estadunidenses ou de pessoas na Diáspora negra – independentemente do país em que você desembarcou, existe conexão com uma associação entre espaços que não são necessariamente originais.
Comecei a pesquisar a origem de certas plantas e percebi que muitas vezes as principais plantas alimentares vêm da África, da América do Sul e da América Central – lugares que foram devastados pelo colonialismo e pelos efeitos do que formou a cultura ocidental moderna. Tornou-se uma interessante analogia para mim o fato de que as próprias plantas passaram pelo mesmo que a Diáspora africana e as diásporas dos países latinos também. Isso inclui espécies de plantas alimentares que têm sido as graças da cultura ocidental, mas a destruição de muitas culturas nativas que têm uma história diferente.
Minha família não tem uma conexão direta com o Caribe, mas existe essa mitologia na comunidade negra de que esses espaços são um lar bem-vindo. De que são nossos espaços e de que espaços que se parecem com esse tipo de espaço pertencem a pessoas que se parecem comigo.
Kendra Walker é uma escritora e consultora de arte que prioriza e analisa criticamente o trabalho de artistas negros emergentes e estabelecidos. Como escritora especializada em artes, ela inclui teoria racial e pesquisa sociopolítica em seu trabalho. Walker contribui para publicações artísticas como Artsy, The Art Newspaper, Galerie Mag, Cultured Mag e Sugarcane Mag. Vive e trabalha atualmente em Atlanta, Geórgia.
Tradução: Cláudio Andrade