Meia década depois do crime que chocou o mundo, a morte de Marielle Franco deu visibilidade internacional às lutas pela redução das desigualdades sociais no Brasil. Desde então, outras mulheres negras e periféricas ingressaram na política, incluindo a própria irmã, Anielle Franco, atual ministra da Igualdade Racial do governo Lula.
Cerimônias de assunção nos cargos das ministras da Igualdade Racial, Anielle Franco, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, com assinatura da sanção presidencial ao Projeto de Lei n° 4566/2021, que tipifica a injúria racial como crime de racismo. Foto: Ricardo Stuckert/PR
No quinto aniversário da morte de Marielle Franco, a sociedade brasileira segue sem saber quem foi o mandante e quais as motivações do crime político que chocou o país naquela noite de 14 de março de 2018. Os rumos da investigação e a esperança de respostas concretas para as perguntas “quem mandou matar e por quê” ganham novo alento neste 2023. O mesmo ano em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou à Presidência da República, retomando um projeto progressista de poder.
As informações mais recentes são de que as investigações para elucidar o crime serão reforçadas. Em finais de fevereiro, após o Carnaval, o ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que a Polícia Federal vai abrir inquérito para investigar as circunstâncias do crime e ajudar a desvendar os mistérios sobre o atentado que pôs fim à vida e ao primeiro mandato de uma jovem mulher que iniciava uma trajetória política promissora. No discurso de posse, Dino afirmou que esclarecer esse caso seria “questão de honra”.
Mídia Ninja, Ato Inter-Religioso - Rio de Janeiro - 20/03/2018. CC BY-NC-SA 2.0
Aos 38 anos, Marielle Franco vivia um momento de protagonismo político com atuação em defesa das causas sociais, dos direitos humanos e dos interesses das minorias. Então vereadora pelo PSOL, um dos partidos de esquerda do Brasil, a socióloga, mulher negra, lésbica e periférica, criada na favela da Maré, foi alvejada por quatro tiros de fuzil numa rua da região central do Rio de Janeiro.
Ela voltava para casa, por volta das 21h, após participar de uma das muitas reuniões de sua extensa agenda. Na direção do veículo, o motorista Anderson Gomes foi atingido por três tiros, também morrendo imediatamente. Sentada no banco traseiro ao lado da vereadora, a jornalista Fernanda Chaves, assessora de Marielle, não foi atingida.
Um ano depois do ocorrido, um policial reformado e um ex-policial foram presos, acusados de terem executado o crime. O policial reformado Ronnie Lessa teria efetuado os disparos, enquanto o ex-policial Élcio Vieira de Queiroz dirigia o veículo que perseguiu o de Marielle, alvejado com 13 tiros.
O crime brutal chocou o Brasil e o mundo e deu visibilidade internacional à voz potente de Marielle que, recém iniciada na política, atuava pela redução das desigualdades sociais no Brasil e não se intimidava em confrontar o crime organizado na chamada “Cidade Maravilhosa”. Nas favelas da metrópole, o crime organizado atua como um poder paralelo, personificado nas chamadas milícias.
Rio de Janeiro. Agência Brasil. Foto: Tânia Rêgo.
Diferentemente do que os assassinos e mandantes do crime poderiam imaginar, a voz e a causa de Marielle ganharam ainda mais força. Desde o crime, muitas outras mulheres negras e periféricas ingressaram na política, tendo a ex-vereadora como inspiração. Como costumam dizer, Marielle virou semente.
A arquiteta Mônica Benício, companheira de Marielle, elegeu-se vereadora no pleito de 2020. Anielle Franco, irmã de Marielle, que já tinha um trabalho de defesa dos direitos humanos e das minorias, foi recentemente escolhida para ser a ministra da Igualdade Racial do governo Lula.
No começo de março, ela foi a primeira e única brasileira a aparecer no seleto grupo de Mulheres do Ano, da revista Time. Junto com a família, Anielle cuida do Instituto Marielle Franco, que tem por objetivo defender a memória e multiplicar o legado da ex-vereadora, seguir na luta incansável por justiça e potencializar o surgimento de novas Marielles. “Vamos potencializar e dar apoio às mulheres, pessoas negras e faveladas que querem ocupar a política, para que os espaços de tomada de decisão tenham mais a cara do povo”, diz texto no site do instituto.
Enquanto o instituto trabalha e o governo age para esclarecer o crime, uma infinidade de vozes relevantes do Brasil segue perguntando “quem mandou matar e por quê”?
Entretando, no 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, o presidente Lula anunciou, em meio a uma série de medidas de proteção às mulheres brasileiras, a proposta de fazer do 14 de março o Dia Marielle Franco de Enfrentamento da Violência Política de Gênero e Raça. Em cerimônia no Palácio do Planalto, Lula assinou a proposta de projeto de lei que será encaminhada ao Congresso Nacional.
Fábia Prates é jornalista com passagem por grandes veículos brasileiros. Atualmente escreve sobre temas relacionados a cultura, comportamento e comunicação corporativa.