Afro-América não é só o batey, o engenho, o tronco e os açoites, a carroça e o cocheiro; Afro-América não é só Xangô e Oxum esbanjando sensualidade na montanhas, Afro-América não é só a machete redentora do mangue libertador, Afro-América é o enigma permanente entre as águas para onde vamos, que somos, de onde chegamos. Afro-América é uma encruzilhada de dor que concerne a todo o continente. (Nancy Morejón, “Afro-América. A invisível?”)
Em 1996, na feira Arco Madrid, quando o curador e crítico cubano Gerardo Mosquera declarou a presença de um novo grupo de artistas sem interesse pelo tema identidade, talvez não tenha considerado a produção dos artistas não brancos da região. Muitos deles, negros e mestiços, continuam refletindo sobre sua identidade racial, compreendida como a capacidade de se reconhecer em função da cor de sua pele e atuar de acordo. “A identidade como pessoa negra”, segundo Victor Fowler, “implica um tipo de dor que manifesta sua existência para além dos paradoxos da deculturação, pois as pontadas de estímulo vêm da história, da cultura, dos sentimentos associados à cor, das narrações familiares, da vida cotidiana e dos meios de comunicação de massa.”
Esses artistas apelam à memória histórica caracterizada pela experiência da escravidão, da servidão colonial, do racismo e das formas específicas de resistência negra como estratégia de visibilização e questionamento político sobre o lugar dos negros nas sociedades contemporâneas. De uma lista extensa, vale destacar artistas como Susana Pilar Delahante Matienzo (Cuba, 1984), Joscelyn Gardner (Barbados, 1961), Ayrson Heráclito (Brasil, 1968), Carlos Martiel (Cuba, 1989), Paulo Nazareth (Brasil, 1977), De Costa a Costa (Colômbia, coletivo artístico), María Magdalena Campos (Cuba, 1959), Luis Manuel Otero Alcántara (Cuba, 1987), Mara Sánchez Renero (México, 1979), Wagner Viana (Brasil, 1981), Thiago Gualberto (Brasil, 1983), José Bubu Negrón (Puerto Rico, 1975), Rosana Paulino (Brasil, 1967) e Renata Felinto (Brasil,1978).