Exposição no Instituto Moreira Salles traça um panorama da obra de Walter Firmo, reunindo mais de 260 trabalhos do fotógrafo carioca, com imagens que incluem manifestações culturais e religiosas, retratos icônicos de artistas como Pixinguinha e Clementina de Jesus, produzidos desde a década de 1950 até os dias atuais.
Vista da exposição “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”, Instituto Moreira Salles Paulista, 2022. Foto: Adima Macena
Walter Firmo, "Vendedor de sonhos" na Praia da Piatã, Salvador, BA, déc. 1980. Foto: Walter Firmo/Acervo IMS
O Instituto Moreira Salles (IMS) apresenta a retrospectiva No verbo do silêncio a síntese do grito, do fotógrafo brasileiro Walter Firmo. A mostra traz imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas, além de retratos de artistas e músicos. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018. A exposição tem curadoria de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra.
A mostra apresenta a obra fotográfica de Walter Firmo a partir de sete núcleos temáticos. O primeiro núcleo mostra obras do início de sua carreira, quando atuava na imprensa. Nas demais seções, a exposição evidencia como pouco a pouco Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente,” afirma o fotógrafo. “A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou”.
Um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, Firmo nasceu em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e foi criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém. Firmo começou a fotografar cedo com uma câmera que ganhou de seu pai. Aos 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (ABAF), no Rio de Janeiro. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante seis meses, da Editora Bloch em Nova York. No exterior, teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, iniciou sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.
Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito Visitação: até 9 de outubro 2022, de terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
IMS Paulista Avenida Paulista, 2424 São Paulo/SP, Brasil
Walter Firmo, Gaudêncio da Conceição durante Festa de São Benedito, Conceição da Barra, ES, c. 1989. Foto: Walter Firmo/Acervo IMS
Walter Firmo, Cantora Clementina de Jesus, Rio de Janeiro, RJ, c. 1977. Foto: Walter Firmo/Acervo IMS
Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente.
Walter Firmo, Maestro Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho), Rio de Janeiro, RJ, 1967. Foto: Walter Firmo/Acervo IMS
Leia entrevista completa da jornalista Ana Paula Orlandi com Walter Firmo aqui.