A exposição se articula através de três temas centrais: Liberdade, Compressão e Exaustão. Cada artista parece ter desenvolvido sua própria estratégia para desafiar a moldura imposta. As figuras fantasmagóricas e assombradoras de Sandra Mujinga em Spectral Keepers são feitas de tecido e banhadas em luz verde alienígena. Seus nomes correspondem a vários números no idioma lingala e desafiam o escapismo hedonista de uma cultura techno transformada em commodity. Sobre o trabalho de quem essa “liberdade” foi construída, ela parece perguntar – e quem foi excluído dela?
O belo álbum Beyond the Yellow Haze, de Emeka Ogboh, entrelaça o som eletrônico com os sons pulsantes das ruas de Lagos. Apresentar sua instalação sonora na categoria Exaustão parece enganoso. Por que e por quem a paisagem sonora de Lagos é percebida como exaustiva? O som torna-se tangível como uma tecnologia que está relacionada à experiência do espaço e da memória. Em uma veia semelhante, a música Nkisi, baseada em Berlim e Londres, liga ancestralidade e descendentes através de ritmos e vibrações em sua instalação de som audiovisual Ninga Na (sons de conexão).
Como pessoa branca que se interessa pela arte de artistas africanos, afro-diaspóricos e afro-americanos e o discurso que envolve essa arte, acho que é crucial recuar e se alinhar atrás de vozes que foram propositadamente mal ouvidas, para que diferentes posições, perspectivas e narrativas possam ser recuperadas – levando o discurso da arte a níveis mais altos para todos. Em vez de convidar DeForrest Brown Jr. para uma entrevista em um podcast quando a exposição já havia sido montada, teria sido mais valioso pedir-lhe que fizesse por si mesmo a curadoria da TECHNO, ou no mínimo ter pedido para que ele se juntasse à equipe curatorial desde o início – a fim de permitir um engajamento crítico com perguntas sobre a propriedade e o pertencimento do techno.
A exposição teria se beneficiado empurrando para trás – no espírito do techno – as limitações da máquina (institucional).
TECHNO no Museion, Bolzano, na Itália, estará aberta até 16 de março de 2022.
Jamila Moroder é historiadora da arte e pintora. Obteve seu mestrado em História da Arte em Contexto Global na Universidade Livre de Berlim em 2020. Sua pesquisa concentra-se na interconexão entre arte, moda e política nos filmes de Sembène Ousmane.
Tradução: Cláudio Andrade