A 7ª edição do FICCA está prevista para setembro próximo. O festival acontece em Medelín, na Colômbia. A edição conta com mais de 40 filmes reunidos em torno do tema “territórios”.
Sementes: mulheres pretas no poder, dirigido por Éthel Oliveira e Julia Mariano, 2020.
O Festival Internacional de Cinema Comunitário Kunta Kinte (FICCA) foi lançado em Medelín, em 2016, pela Corporação Afro-Colombiana para o Desenvolvimento Social e Cultural (Carabantú). Trata-se de uma ferramenta etno-educativa que busca resgatar os valores, as riquezas e a diversidade dos povos afrodescendentes. “O nome do festival é uma homenagem a dois personagens”, diz o diretor Ramón Perea. “O primeiro é Euclides Blandon Kunta Kinte, um líder social do departamento de Chocó, que desapareceu após disseminar repetidamente a ideia de que a negritude deve ser preenchida com conteúdo político. O outro é o personagem Kunta Kinte, da minissérie Raízes”.
Cada edição do festival aborda uma temática distinta. Para 2022, a escolha recaiu sobre o tema “territórios”, enquanto nos anos anteriores os tópicos foram “migrações” e “identidades e paz”. “Os territórios são como o corpo, são as terras ancestrais das quais as pessoas foram privadas”, explica Perea. “Queremos explorar a diversidade dos territórios urbanos e rurais”, acrescenta.
"Tres Caminos de Vida" (Três caminhos de vida), dirigido por Mayra Alejandra Moya e Dayana Urrutia, 2021.
Outro aspecto importante do festival são as exposições de fotografia, resultado de oficinas com crianças e jovens que residem em bairros periféricos de Medelín como Morávia, Santa Cruz, 8 de Março, Mirador de Calasanz, Novo Amanhecer e São Cristóvão, onde há uma vasta população afrodescendente.
A partir dessas oficinas, que reúnem até 160 jovens, surgem também curtas-metragens. Um deles, Três histórias, produzido em 2021, integra esta sétima edição do festival que acontece em 2022. O documentário mostra os avanços do bairro Novo Amanhecer, de Medelín, graças a três líderes sociais afrodescendentes. Com duração de 10 minutos, o filme foi produzido por jovens entre 12 e 17 anos, que veem o curta-metragem como uma forma de manter a identidade afro do bairro. A ideia é produzir, a partir de março deste ano, oito curtas-metragens nas oficinas do festival, com foco em desenvolvimento de roteiro e edição de som e imagem.
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O festival exibirá mais de 40 filmes de todo o mundo, incluindo Sementes: mulheres pretas no poder, 2020, um filme sobre a história de Marielle Franco, vereadora lésbica negra do Rio de Janeiro assassinada em 2018 por seu trabalho político. “Seu legado influenciou outras mulheres que, por sua vez, dão novos exemplos”, diz Pereas.
Além da programação de exposições, haverá um encontro-aula de formação em políticas públicas. O evento envolve atrizes e atores, lideranças sociais, bem como diretoras e diretores de cinema, promovendo uma discussão sobre a representação afro na televisão e mais especificamente no cinema de animação. Outras atividades do Carabantú incluem a Cátedra Popular Afrodescendente Ana Fabricia Córdoba, que reúne uma vez por mês, às quintas-feiras, ativistas afro-colombianos, brasileiros, estadunidenses e de outras origens em quatro cidades da Colômbia. Trata-se de um espaço internacional de debate que já deu origem a um livro. “Ali falamos sobre a história dos negros a partir de uma perspectiva crítica sobre o cinema”, explica Ramon Perea. “Apresentamos em todo o país filmes não estereotipados, que falam das contribuições e reconhecimentos da cosmovisão negra, com uma abordagem ampla dos povos afrodescendentes que inclui aspectos políticos, econômicos, sociais e ambientais”.
O 7o FICCA Kunta Kinte acontece entre os dias 1° e 5 de setembro de 2022, em Medelín, Colômbia. A convocatória estará aberta a partir de março de 2022.
Will Furtado é editorx-adjuntx da Contemporary And América Latina.
Tradução: Soraia Vilela