Moçambique

Amarildo Rungo leva sua arte da periferia ao centro de Maputo

A colaboração entre o artista multidisciplinar Amarildo Rungo e o fotógrafo Ildefonso Colaço chama a atenção dos espectadores para áreas negligenciadas. A mostra transporta os visitantes a memórias de um cotidiano marcado por dificuldades financeiras que afeta a maioria dos jovens das periferias de Maputo.

Amarildo Rungo é um artista moçambicano multifacetado, que nasceu em 1998 na Machava, um dos bairros periféricos da cidade de Maputo. Iniciou sua atividade artística em 2013 com a música, e posteriormente, nas artes plásticas, com a pintura e o desenho em 2015, tendo concluído o curso de Artes Visuais pela Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV) em Maputo em 2020.

Conta com diversas exposições, a destacar as coletivas: Expoética, na Câmara Municipal de Maputo (2019); Convergência das Cores, na Casa da Cultura da Cidade de Maputo (2020); Diversidade Cultural, na Casa da Cultura da Cidade de Maputo (2021); Expo Crescente, na Kulugwana (2021) e Corpo (R) Ação, na Muend’Arte, Mafalala (2021).

Magias do pano é uma individual que faz uma viagem ao tempo e leva o visitante às memórias de uma vida quotidiana marcada pelas dificuldades financeiras que atingem a maior parte dos jovens periféricos da nossa cidade. Mas é uma viagem repleta de alegria e esperança na transformação das condições sociais desses jovens, que olham para o futebol e se inspiram também no futebolista moçambicano Eusébio da Silva Ferreira (1964-2014), que saiu do gueto da Mafalala para os maiores clubes de futebol de Portugal e é tido como um dos melhores futebolistas que o mundo teve.

A exposição de Rungo contou ainda com a participação do fotógrafo Ildefonso Colaço, responsável pelas imagens de jovens do bairro da Mafalala jogando Xingufo. As fotografias de Colaço são em preto e o branco e contrastam com as bolas de pano coloridas.

Essa exposição tem como objetivo principal mostrar que a arte também reside nas zonas “aparentemente esquecidas” e leva a arte dessas zonas a ocupar os maiores centros culturais urbanos da cidade de Maputo. Assim, além de sinônimo de resistência, a exposição é um ato de coragem, fazendo com que essas vivências sejam enxergadas de uma outra forma, sob novos ângulos pela sociedade moçambicana.

O artista faz uma provocação sobre a necessidade de se olhar para esses lugares renegados e leva o público a fazer uma reflexão sobre como os artistas periféricos se formam desde o berço, quais são as dificuldades existentes nos seus seios e que acabam servindo como motor para busca de novas oportunidades.

Para Amarildo Rungo, “pertencer ao meio periférico”, conseguir chegar aos grandes centros de arte da cidade e expor os trabalhos sem que sua identidade seja questionada ou negada ainda é um desafio. Um dos desafios que o artista coloca é, caso haja objeções, onde buscar espaços nos quais essas criações artísticas possam ser dignamente exibidas sem se olhar para a proveniência do artista e valorizando seu processo criativo.

Magias do pano tornou-se assim uma das exposições que mais chamou atenção do público e meios de comunicação pela sua forma ousada e peculiar de levar o lado desconhecido dos bairros periféricos para o centro da cidade.

 

Magias do pano esteve em cartaz na Fundação Fernando Leito Couto (Avenida Kim II Sung Nr 961, Maputo, Moçambique), entre 27 de abril e 18 de maio de 2022.

Este texto é resultado do “C& Mentoring Program”, realizado em Moçambique com a orientação da mentora Miriane Peregrino.


Lorna Zita é co-fundadora da produção Elarte, escritora e artista de palavras faladas sediada em Maputo, Moçambique. Ele contribuiu para o Digipoem no Zimbábue e para a BBC Contains Strong Language no Reino Unido.

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